Ponto para Silvia Regina, de 34 anos, que há 18 divide o mesmo teto com o cantor. Ela já se acostumou a responder à estranheza de todos os curiosos sobre seu relacionamento aberto.
— Ciúme é burrice. Tive quando mais nova, mas a gente aprende. É perda de tempo, estresse bobo. Não me incomoda o fato de o Negão ficar com outras mulheres, ele sempre volta para casa — afirma ela, que se apaixonou à primeira vista num baile funk em Madureira pela “cara nervosa” do cantor e logo ganhou um autógrafo no bumbum.
É de Silvia a responsabilidade de cuidar dos 15 filhos de Catra que moram com o casal, em Vargem Grande, na Zona Oeste do Rio.
— Só cinco nasceram da minha barriga, mas cuido de todos os outros como meus. Me admira a disposição do Negão, ele quase não dorme de tanto que trabalha pra não deixar faltar nada pra gente — diz ela, revelando gastar, em média, R$ 5 mil por semana com comida e fraldas: — E ainda são uns 30 planos de saúde, 30 matrículas escolares... Mas, sendo organizado, não tem mistério, sempre dá certo.
Onde comem 30, batem à porta pelo menos outros 40. É a quantidade de gente que Catra calcula auxiliar financeiramente.
— Solidariedade é lei. Você não pode ficar com a graça toda para você, tem que dividir para multiplicar — explica ele, que também vive sendo “ajudado” pelos amigos mais abastados: — Não compro nada para mim, ganho tudo. Os cordões e anéis (de ouro) e até o avião foram presente... Um empresário/jogador/cantor, parceirão meu, disse: “Eu não uso isso, fica para você”.
Seria Ronaldinho Gaúcho o autor da façanha?
— Não posso falar quem é, filha, senão vai aparecer um monte de pidão na cola dele... — desconversa.
Investimentos, Catra diz que só faz nos filhos, sua maior riqueza na vida:
— A poupança do homem é sua própria família. Quer ser rei? Torne seu reino próspero.
Pai e avô
Em casa, Catra se considera “um pai justo e coerente, mas um avô babão”. Thamyris Domingues, de 22 anos, filha mais velha do cantor (entre as meninas) acha graça do cuidado que ele tem com sua pequena, Maria Eduarda, de 6 meses, a primeira neta mulher.
— É o xodó dele. Meu pai liga toda hora aqui para casa, na vizinhança, para saber da neta. Nem pergunta mais de mim... — conta ela, enciumada e acostumada a lidar com um lado mais sensível do homenzarrão: — Ele só tem aquela casca grossa. No nascimento da Duda, não parou de chorar. Se um filho se machuca, ele fica desesperado. Se sai da linha, ele faz drama.
Alan Pedro Soares Cardoso Domingues Costa, de 24 anos, só começou a desfrutar do carinho do pai há seis, quando descobriu ser mais um dos herdeiros de Catra. Hoje conhecido como MC Alandim, tem a carreira apoiada pelo funkeiro-mór.
— Eu sou fã dele desde que me entendo por gente. Quando fiz 18 anos e minha mãe me contou a verdade, não acreditei. Era muita sorte ser filho do meu ídolo! Agora, moramos juntos e ele é uma faculdade do funk pra mim. Fala: “O certo é o certo, o errado é o errado. Por mais que pareça difícil, o certo é sempre o mais fácil, meu filho, não se iluda”. É o cara!
Professor dentro e fora de casa, Catra revelou nomes como Tati Quebra-Barraco e Gaiola das Popozudas, grupo de onde Valesca saiu. Com a loura, gravou o pancadão “Mama”, de fazer corar até o mais despudorado dos seres.
— Todo mundo se assustou, se chocou, mas sabia a letra todinha, né? — instiga a Popozuda.
Catra emenda:
— Quem faz careta para o funk hoje é neto de quem discriminou o samba ontem e bisneto de quem condenou a capoeira anteontem.
Tão “filósofo contemporâneo” quanto a amiga famosa, ele é autor dos mais excêntricos pensamentos (alguns estampados nestas páginas).
— Sou um papagaio de favela, isso sim! — brinca.
E, apesar de divulgá-los no Facebook e no Instagram, se diz avesso a tecnologias e aos livros.
— Não leio mais. Deixei de ser inteligente para me tornar sábio — responde.
Mas experimente puxar um assunto “cabeça”, como drogas ou política. Ele desenrola com maestria...
— Sou a favor da liberação e da tributação dos entorpecentes. Que se reverta o dinheiro do tráfico para escolas, hospitais ou mesmo clínicas de reabilitação. Esse combate às drogas é um artifício para os corruptos botarem grana no bolso. A maior mentira do mundo é “Todo povo merece o governo que tem”. Eu não acredito em urna eletrônica! Não voto. Nem justifico. Prefiro pagar a multa a me sentir enganado — vocifera, afirmando que nunca se candidataria às eleições:
— Sou homem demais para ser político. Aprendi isso com o meu pai: homem não mente, não engana, não trai. Político não tem consciência, tem conta no banco. Prefiro cantar putaria, é mais honesto.