Pássaro fela da puta

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Funk Carioca...




O Funk Carioca é como um super-herói com poderes invertidos. Ele está por toda a parte na cidade: no asfalto, no morro, na areia, no sangue, na pele e nas micropartículas do ar. Além da onipresença, ele também tem o dom da invisibilidade, mas apenas porque as pessoas não querem vê-lo por perto e fazem de conta que não existe. É como se fosse um prato no restaurante que todos têm medo de perguntar se está no cardápio. É como o menino pedindo dinheiro no sinal e sendo ignorado pela madame em seu carrão importado e com vidros fumê. Mas basta botar o som bem alto para que sua maior força — o poder do grave — quebre todas as resistências. Porque o funk não é para ser explicado, é para ser sentido. E aí todos — a turma no restaurante, a madame no carrão — vão bater pezinho, quebrar a cintura e sacudir o popozão. “É som de preto, de favelado, mas quando toca, ninguém fica parado”, como bem diz a letra de Som de Preto. O funk pega um, pega geral. E continua pegando.

Depois de anos surfando ondas de preconceito, o funk carioca vai muito bem. Na crista, em cima da prancha, está o DJ Marlboro. É ele quem guia o funk carioca. Por onde ele vai, a música vai atrás. Marlboro é o rei do Rio, um dos únicos sujeitos capazes de unir a cidade partida. Quer saber onde tem um bom baile funk? Procure um onde Marlboro e sua equipe, Big Mix, estiverem tocando. Pode ser na quadra do Dois Irmãos, em Acari (rua Piracambu) ou no Dendê, na Ilha do Governador. Esse é o circuito quente original, em que o funk esquenta chapas todos os fins de semana.

Mas desde que Marlboro foi convidado para tocar no Tim Festival, o funk retomou o namoro com a Zona Sul da cidade. Antes do Carnaval, Marlboro estava fazendo “ensaios” no Scala, no Leblon, como se fosse uma escola de samba. Já teve funk rolando também no Monte Líbano, na Lagoa, misturado com electro e hip hop. Além das fronteiras do estado, durante a folia momesca, Marlboro tocou em Porto Seguro e no Camarote 2222, organizado por Flora Gil, em Salvador.
Além de Marlboro, uma MC protegida por ele, a incendiária Tati Quebra Barraco, fez barba, cabelo e bigode após seu show no mesmo Tim Festival. Tati virou desenho da grife Cavalera, inspirou desfile no Fashion Rio 2005, excursionou pela Europa e ganhou uma residência no moderno clube Fosfobox, em Copacabana, onde tem cantado hits como Espanhola e Palmolão.
Porém, a mais inesperada conexão do funk está acontecendo fora do Brasil. É por meio do DJ e produtor americano Diplo que o funk carioca está começando a ganhar o mundo. Diversas vezes comparado com o supremo DJ Shadow, um mestre na arte de colagens musicais, Diplo conheceu o funk por acaso, ao se apresentar para um grupo de dançarinos brasileiros radicados em Nova York. Surpreso e apaixonado pela força do som, ele veio ao Brasil e fez uma espécie de “estágio” nos bailes funk do Rio, conhecendo Marlboro e companhia.

De volta aos Estados Unidos, botou o conhecimento em prática. Primeiro, lançou dois mixtapes — discos mixados, distribuídos gratuitamente em lojas pelos DJs — recheados de funk. Depois, completou seu primeiro disco-solo, Florida, em que mistura ragga (o lado cascudo do reggae) com funk, tudo embalado por atmosféricas colagens musicais, indo do soul ao free jazz. Seu disco saiu na Europa pela prestigiada gravadora Ninja Tune. “Como mostra Diplo, o funk carioca é um som agressivo e altamente erótico. É difícil resistir a ele após algumas audições”, disse o jornal Japan Times, do Japão, claro. “É o som de uma festa fora do controle. Perto do conservadorismo do hip hop, o funk carioca soa revolucionário”, exclamou o City Paper, da Filadélfia. São sinais de que o mundo pode cair de amores pelo funk. E aí, se isso acontecer, não vai dar para fazer de conta que ele é invisível.vlw. !!

0 comentários:

Postar um comentário